sexta-feira, 6 de junho de 2014

Cristianismo Ostentação


Ostentar: eis a máxima a ser seguida por toda e qualquer existência, que se queira integrada na atualidade. Ostenta-se tudo, todos ostentam: eu ostento, tu ostentas, nós ostentamos. Tudo passa, mas a ostentação fica. “Céus e terras passarão”, mas as ostentações não passarão: proclama a cínica Boa Nova do presente. Perdura, a ostentação, não como simples perenidade, porém perdura na caducidade. Ostentar é um ato efêmero, como quase tudo no horizonte cultural contemporâneo, mas sua efemeridade dobra toda perenidade arrogante. A ostentação perdura por não se apresentar sempre de modo único e singular, como algo único e sem repetição, pelo contrário perdura exigindo uma repetição incomensurável. Resultando disso um rito, uma liturgia da cópia. O ato de ostentação se finda rapidamente, ele não deve durar mais que o espaço entre sua epifania e o imediato reconhecimento social. Logo, a ostentação precisa ser repetida infinitamente, perdurando, portanto, na repetição. Isto é, nada de novidades totais, singularidades impossíveis de se tornarem cópias, cabem apenas pequenas mudanças que não alterem a forma.
Ora, a forma da ostentação é única, ela não faz qualquer discriminação de cor, de classe social (todos são consumidores, portanto ostentadores, o que se altera é apenas a quantidade e os “bens” consumidos), de nacionalidade ou de Religião. No caso do espaço simbólico do sacro, a forma de ostentação é a mesma, ainda que nossos credos destoem. Existindo uma forma unívoca, a aparência é a mesma, igual para todos, por conseguinte todos estão irmanados e unidos. Trata-se de um ecumenismo já realizado, perversamente realizado: o ecumenismo da ostentação. Podemos ostentar nossos diferentes credos juntos, posto que unidos pela mesma forma de ostentação, ainda que nos odiemos mutuamente. Em um mundo, no qual todo “cristão” é cotidianamente um potencial apóstata da sua fé, o “amai-vos uns aos outros” cedeu lugar ao “ostentai-vos uns aos outros”. Nada de promessa de vida em plenitude, mas sim ostentação absoluta, completa. Ostenta-se tudo: em primeiro lugar, a própria vida, a vida privada, os afetos e os respectivos objetos de afeto (estes ostentados como prêmios, principalmente quando se trata de namorado (a) ou filhos), ostenta-se os infinitos acontecimentos do cotidiano, pra onde se viaja, onde se está, o que se come ou bebe, os livros e as leituras feitas, o saber adquirido, a própria suposta sagacidade, ostenta-se até mesmo a espiritualidade (ainda que esta nunca deixe de ser interioridade, por isso não se adequando completamente à visibilidade total), ostenta-se a própria fé. Contudo, toda ostentação se apresenta como imagem constituída dos seguintes elementos: devem ser atrativas, por isso devem ser belas para tornar extremamente visível a felicidade. Depois de tempos da felicidade imposta pela globalização do consumo, chegou o tempo da ostentação da felicidade. Ostentar: eis o novo mandamento, ao qual o mundo nos impele incondicionalmente. Ostentai sempre e mais, fazei de tudo na vida, algo para ser ostentado. Ostenta até mesmo a tua dor, se não é possível ser feliz sem ostentar a própria felicidade, também não é possível sofrer sem se ostentar as próprias mazelas.
Ao lado deste caráter pervertido, que atinge o espaço do sagrado, isto é a ostentação do sacro e da fé, se acresce outro aspecto: a relação tragicamente dinâmica entre consumo e ostentação. Os objetos de consumo não são feitos apenas para “simplesmente” serem consumidos. O consumir em si mesmo perdeu seu sentido, não possui mais escopo, se é que um dia o teve. Está ultrapassada a barreira do consumir pelo consumir. O real sentido do consumo, hoje, encontra-se na ostentação: consume-se para se ostentar. Qual a graça de consumir anonimamente? Sem a maior visibilidade possível? Sem a paranóia imagética? Esta paranóia, ao mesmo tempo sádica e masoquista, garante o dissimuladoassentimento social, e sem este consumir não apresenta o menor prazer. Ademais, fora do signo do prazer e da excitação horizontal tudo perde sentido na atualidade. Se a máxima é ostentar, não se deve olvidar que, além disso, vive-se sob o império do poder difuso das imagens. Isto é, no reino do imagético onde nada é, mas tudo apenas parece. Assim, a excitação social se volta diretamente ao visível, ao puro aparecer, dissolvendo qualquer alteração harmoniosa entre os outros sentidos e a sensibilidade. Entre os objetos e suas respectivas imagens não há mais limites ou diferenças. As coisas não são o que são, mas o que parecem, não são elas mesmas, são suas imagens apenas: “assim é, se lhe parece”. As coisas são e estão à medida que são puras manifestações visíveis, e quanto maior a visibilidade, maior o suposto grau de realidade. Não sem motivo, nos mais diversos setores e espaços sociais, todos, de modo beligerante, buscam sempre visibilidade. Por conseguinte, a ostentação nada mais é que a visibilidade hiperbólica, extremada e violenta: a imagem que se coloca no lugar das coias mesmas, para ser vista repetidamente, incessantemente, pelo maior número possível de sujeitos. Nisso está o mecanismo da selfie, que nem de longe pode ser explicita pela aproximação ao clássico elemento estético do auto-retrato.
Desse modo, é possível afirmar que em nosso horizonte cultural todas as coisas estão sujeitas a uma violência primeira: a violência da visibilidade, da imagem ostensiva, violência que possui como fonte o poder difuso do imagético hiperbólico. Uma visibilidade cujo escopo é apenas mais visibilidade. As imagens, toda aparição, toda manifestação que se queira ampla e visível é, portanto, potencialmente violenta, ainda que não seja esta a finalidade. Pois, tudo que se torna visível, encontra-se manifesto na forma da visibilidade do consumo, ou seja, como ostentação. Além das imagens não há mais um substrato concreto, um conteúdo, uma interioridade. Hoje não há nada além da imagem, agora o imagético é o princípio e o fim, o Alfa e Ômega. Tudo nasce sob o poder do imagético, nele permanece e morre, para tornar a nascer de novo, pois a ressurreição dos novos tempos tem por rito litúrgico: o remake. Tudo que se apresenta como cópia, tende a não desaparecer, uma vez que susceptível de se reproduzir infindavelmente, logo todo remake surge como imagem do ressuscitado, como signo de vitória ante a caducidade, a morte e o desaparecimento. A cópia e a repetição assim, não apenas prometem, mas garantem a própria vida eterna. Por consequência, o cristianismo ostentação nada mais é que o remake, a cópia da cópia, a repetição da perversa ordem que prevalece, a adequação cínica, posto que assumidamente sem subterfúgios, ao status quo da repetição e da cópia como novos supostos liames sociais. Apenas se repete sob o signo do “sacro”, aquilo que é feito no campo do “profano”. Portanto, o imagético desaloja o campo do onírico, do verossímil, do simbólico, do prazeroso-passional, apresentando-se como o próprio campo estético por excelência, corroendo a diferença entre sujeito e objeto.
A trágica relação dinâmica entre ostentar e consumir perverteu-se de tal modo, que não é mais possível diferenciar os dois. Um sustenta o outro: toda ato de ostentação na atualidade é um ato consumista, e, por sua vez, todo consumismo é feito para ser ostentado. Alcançando âmbitos impensáveis, a própria existência pessoal só é reconhecida atualmente, se inserida em ritos de consumo. A identidade é formada pelo consumir, mas todo consumir é ostentar, e todo ostentar é visibilidade exagerada e violenta. Logo, nascem subjetividades que na própria formação de seus princípios de identidade são assumidamente violentas, egoístas, narcísicas e insensíveis. Não reconhece nada que lhes seja outro, que não esteja sob a forma única e mesma da ostentação
Assim, nem objetividade, nem subjetividade, nem dentro, nem fora, sem verticalidades: há apenas as horizontalidades das aparências e das imagens. Se todo “cristão” é um apóstata em potencial, em virtude da ordem econômica perversa na qual se insere, também é atrativamente convidado a ser mais um sociopata da imagem, uma vez que é convidado a reproduzir, cinicamente ou “inocentemente”, a visibilidade ostensiva. Sociopatas da imagem são aqueles que não conseguem existir sem tornar maximamente visível a própria existência. Esta em um modo muito próprio de sentir, pois se trata de um sentir patológico, é apenas uma imagem: “ser é ser percebido”. Portanto, para o sociopata da imagem tudo está reduzido à visibilidade. Porém, não se trata de uma visibilidade qualquer, mas sim de uma visibilidade extremada. Quanto mais cresce o alcance das redes sociais, desaparecendo os espaços coletivos concretos de convivência, maior o número de sociopatas da imagem. Pois, a lógica da ostentação tem como hábitat natural as redes sociais e os mass medias. Todos querem tomar parte no espetáculo, nem que lhe caiba o papel de figuração ou do ridículo, pois ficar de fora do espetáculo significa o fracasso social. Por conseguinte, a fim de evitar o fracasso, a maior parte do cristianismo ocidental resolveu unir fé e ostentação.
Na lógica da ostentação são consideradas reais, depositárias de crédito e afetividade as coisas que fazem sucesso, porém, cumpre lembrar, este último só é alcançado com visibilidade, ou seja, com ostentação. Ora, para não perder espaço, o cristianismo ocidental, em seus mais diversos credos, não viu outra saída para sobreviver, ante o avanço da secularização, senão adequar-se à ostentação imperante. Estranha saída esta, que o cristianismo ocidental adotou: usar as formas mais avançadas da secularização para barrar a secularização, usar as formas mais avançadas do “profano” para comunicar o “sagrado”. Assumindo esta alternativa, não basta ser cristão, é preciso apresentar uma imagem condizente com o credo. Não só isso, é preciso atrair a maior visibilidade possível, logo é preciso ostentar a imagem que se quer incessantemente visível. Porém, como afirmado anteriormente, toda imagem na atualidade é potencialmente violenta, logo o cristão que aderiu à lógica da ostentação, é, por princípio violento, e uma vez submetido à ostentação, torna-se um fundamentalista inveterado, pois traz para o reino do imagético algo que lhe é estranho: a afirmação da posse do verdadeiro, o monopólio da verdade. Ou seja, o caráter de Ser que não se coaduna com o caráter de pura Aparência do imagético. Apresenta-se, pois, no caso do cristianismo ostentação uma tensão no âmbito do reino do imagético. Uma tensão já bastante discutida na tradição cultural do ocidente: a tensão entre Ser e Aparecer, Essência e Aparência, entre a realidade das coisas e suas respectivas imagens.
Adequado á ostentação, o homem religioso cristão ocidental não quer se desfazer de suas “verdades”, daquilo que para ele constitui o seu ser mais essencial. Porém, no reino das imagens, da pura aparência, noções como verdade e essência inexistem, perderam sentido de realidade, posto que: “assim é, se lhe parece”. Na visibilidade ostensiva midiática não são possíveis sinceros e honestos anúncios de verdade, promessas de um Reino divino, profecias ou messianismos. Não há nem messias, nem imagens de messias, pois a própria imagem, o imagético é o Messias. A imagem é o messias, posto que se instaurou um novo reino, uma nova ordem, onde não há mais disputas. Só há disputas e embates mortais onde se acredita estar de posse da verdade, e na posse da verdade não há lugar para aparências, ou se é ou não é. Todavia, no reino do imagético, no império da pura aparência não se disputa sobre a veracidade ou falsidade de algo, não se trata de ser ou não ser, mas apenas de aparecer. Não importa os desnudamentos de verdades essências, importa somente a circulação das imagens, e as imagens não arrogam para si nem veracidade, nem falsidade, pedem apenas visibilidade extremada,
ou seja, ostentação. Quanto mais imagens circulam, maior a visibilidade, quanto maior a visibilidade, maior o sucesso, e fazendo sucesso, se permanece. Ora, mais o que importa não é justamente permanecer, perdurar, alocar-se na duração da visibilidade? Não é esta, pois, a lógica inerente ao cristianismo ostentação? Quanto mais visível, quanto mais obedecer à paranoia da imagética hiperbólica, mais o credo assumido se fortalece: eis a lógica do cristianismo ostentação. Assim, a máxima de nosso tempo se estabelece sobre uma religiosidade completamente derrotada pela ordem prevalente. Ante a derrota, para evitar uma exposição ao ridículo, parece não haver outra opção. Resta apenas reproduzir, copiar, fazer remakes, seguir o modus operandi do “vencedor”. Contudo, tal completa adequação ao status quo não significa o desaparecimento da tensão apontada anteriormente. Não se pode viver arrogando-se o monopólio da verdade, assumindo o caráter de ser, no reino onde domina o imagético, o puro aparecer, a visibilidade ostensiva quem não se quer nem verdadeira, nem falsa, não se arroga portadora de nenhuma verdade ou parâmetro moral: o que importa é aparecer. Desse modo, ou se recusa o primado do ser sob o aparecer, ou não se entra completamente no reino do imagético. A porta para entrar no reino do imagético é larga, todos podem entrar, mas se pede um assentimento total. Tal reino pede de seus súditos apenas o puro parecer, ou seja, nada de se arrogar estatuto de verdade ou realidade.
Por isso, resta apenas uma indagação apelativa: Cristão, o que vais ostentar na continuidade, quando a tensão entre a ostentação e o teu credo se tornar mortalmente patente? Irás ostentar a própria morte da singularidade da mensagem outrora proclamada? Se assim for, inicia as exéquias, sem perder de vista que hoje até mesmo a morte pode ser ostentada. Sem perder de vista também que a nova ordem ao qual tu te adéquas oferece um tipo de ressurreição: aquela por meio das cópias, através do rito do remake. Contudo, uma vez aceitando-se a vida eterna da cópia, torna-te um apóstata completo da tua fé, e não mais apenas potencialmente, pois perde sentido toda busca por um cristianismo autêntico. Posto que, da autenticidade, daquilo que se impõem como integralmente original não resta espaço para cópias. Por fim, lembra-te que nos teus evangelhos é manifesto que não poderás servir a dois senhores. Escolhe, pois: ou o cristo Midiático, ou o Cristo dos Evangelhos. Não poderás permanecer para sempre sob a forma do Cristianismo Ostentação: ou se cristianiza, ou se ostenta. A manutenção dos dois significa a renuncia da própria fé. Mais que isso, Cristianismo ostentação não éAssim, nem objetividade, nem subjetividade, nem dentro, nem fora, sem verticalidades: há apenas as horizontalidades das aparências e das imagens. Se todo “cristão” é um apóstata em potencial, em virtude da ordem econômica perversa na qual se insere, também é atrativamente convidado a ser mais um sociopata da imagem, uma vez que é convidado a reproduzir, cinicamente ou “inocentemente”, a visibilidade ostensiva. Sociopatas da imagem são aqueles que não conseguem existir sem tornar maximamente visível a própria existência. Esta em um modo muito próprio de sentir, pois se trata de um sentir patológico, é apenas uma imagem: “ser é ser percebido”. Portanto, para o sociopata da imagem tudo está reduzido à visibilidade. Porém, não se trata de uma visibilidade qualquer, mas sim de uma visibilidade extremada. Quanto mais cresce o alcance das redes sociais, desaparecendo os espaços coletivos concretos de convivência, maior o número de sociopatas da imagem. Pois, a lógica da ostentação tem como hábitat natural as redes sociais e os mass medias. Todos querem tomar parte no espetáculo, nem que lhe caiba o papel de figuração ou do ridículo, pois ficar de fora do espetáculo significa o fracasso social. Por conseguinte, a fim de evitar o fracasso, a maior parte do cristianismo ocidental resolveu unir fé e ostentação.
Na lógica da ostentação são consideradas reais, depositárias de crédito e afetividade as coisas que fazem sucesso, porém, cumpre lembrar, este último só é alcançado com visibilidade, ou seja, com ostentação. Ora, para não perder espaço, o cristianismo ocidental, em seus mais diversos credos, não viu outra saída para sobreviver, ante o avanço da secularização, senão adequar-se à ostentação imperante. Estranha saída esta, que o cristianismo ocidental adotou: usar as formas mais avançadas da secularização para barrar a secularização, usar as formas mais avançadas do “profano” para comunicar o “sagrado”. Assumindo esta alternativa, não basta ser cristão, é preciso apresentar uma imagem condizente com o credo. Não só isso, é preciso atrair a maior visibilidade possível, logo é preciso ostentar a imagem que se quer incessantemente visível. Porém, como afirmado anteriormente, toda imagem na atualidade é potencialmente violenta, logo o cristão que aderiu à lógica da ostentação, é, por princípio violento, e uma vez submetido à ostentação, torna-se um fundamentalista inveterado, pois traz para o reino do imagético algo que lhe é estranho: a afirmação da posse do verdadeiro, o monopólio da verdade. Ou seja, o caráter de Ser que não se coaduna com o caráter de pura Aparência do imagético. Apresenta-se, pois, no caso do cristianismo ostentação uma tensão no âmbito do reino do imagético. Uma tensão já bastante discutida na tradição cultural do ocidente: a tensão entre Ser e Aparecer, Essência e Aparência, entre a realidade das coisas e suas respectivas imagens.
Adequado á ostentação, o homem religioso cristão ocidental não quer se desfazer de suas “verdades”, daquilo que para ele constitui o seu ser mais essencial. Porém, no reino das imagens, da pura aparência, noções como verdade e essência inexistem, perderam sentido de realidade, posto que: “assim é, se lhe parece”. Na visibilidade ostensiva midiática não são possíveis sinceros e honestos anúncios de verdade, promessas de um Reino divino, profecias ou messianismos. Não há nem messias, nem imagens de messias, pois a própria imagem, o imagético é o Messias. A imagem é o messias, posto que se instaurou um novo reino, uma nova ordem, onde não há mais disputas. Só há disputas e embates mortais onde se acredita estar de posse da verdade, e na posse da verdade não há lugar para aparências, ou se é ou não é. Todavia, no reino do imagético, no império da pura aparência não se disputa sobre a veracidade ou falsidade de algo, não se trata de ser ou não ser, mas apenas de aparecer. Não importa os desnudamentos de verdades essências, importa somente a circulação das imagens, e as imagens não arrogam para si nem veracidade, nem falsidade, pedem apenas visibilidade extremada,
ou seja, ostentação. Quanto mais imagens circulam, maior a visibilidade, quanto maior a visibilidade, maior o sucesso, e fazendo sucesso, se permanece. Ora, mais o que importa não é justamente permanecer, perdurar, alocar-se na duração da visibilidade? Não é esta, pois, a lógica inerente ao cristianismo ostentação? Quanto mais visível, quanto mais obedecer à paranoia da imagética hiperbólica, mais o credo assumido se fortalece: eis a lógica do cristianismo ostentação. Assim, a máxima de nosso tempo se estabelece sobre uma religiosidade completamente derrotada pela ordem prevalente. Ante a derrota, para evitar uma exposição ao ridículo, parece não haver outra opção. Resta apenas reproduzir, copiar, fazer remakes, seguir o modus operandi do “vencedor”. Contudo, tal completa adequação ao status quo não significa o desaparecimento da tensão apontada anteriormente. Não se pode viver arrogando-se o monopólio da verdade, assumindo o caráter de ser, no reino onde domina o imagético, o puro aparecer, a visibilidade ostensiva quem não se quer nem verdadeira, nem falsa, não se arroga portadora de nenhuma verdade ou parâmetro moral: o que importa é aparecer. Desse modo, ou se recusa o primado do ser sob o aparecer, ou não se entra completamente no reino do imagético. A porta para entrar no reino do imagético é larga, todos podem entrar, mas se pede um assentimento total. Tal reino pede de seus súditos apenas o puro parecer, ou seja, nada de se arrogar estatuto de verdade ou realidade.
Por isso, resta apenas uma indagação apelativa: Cristão, o que vais ostentar na continuidade, quando a tensão entre a ostentação e o teu credo se tornar mortalmente patente? Irás ostentar a própria morte da singularidade da mensagem outrora proclamada? Se assim for, inicia as exéquias, sem perder de vista que hoje até mesmo a morte pode ser ostentada. Sem perder de vista também que a nova ordem ao qual tu te adéquas oferece um tipo de ressurreição: aquela por meio das cópias, através do rito do remake. Contudo, uma vez aceitando-se a vida eterna da cópia, torna-te um apóstata completo da tua fé, e não mais apenas potencialmente, pois perde sentido toda busca por um cristianismo autêntico. Posto que, da autenticidade, daquilo que se impõem como integralmente original não resta espaço para cópias. Por fim, lembra-te que nos teus evangelhos é manifesto que não poderás servir a dois senhores. Escolhe, pois: ou o cristo Midiático, ou o Cristo dos Evangelhos. Não poderás permanecer para sempre sob a forma do Cristianismo Ostentação: ou se cristianiza, ou se ostenta. A manutenção dos dois significa a renuncia da própria fé. Mais que isso, Cristianismo ostentação não éAssim, nem objetividade, nem subjetividade, nem dentro, nem fora, sem verticalidades: há apenas as horizontalidades das aparências e das imagens. Se todo “cristão” é um apóstata em potencial, em virtude da ordem econômica perversa na qual se insere, também é atrativamente convidado a ser mais um sociopata da imagem, uma vez que é convidado a reproduzir, cinicamente ou “inocentemente”, a visibilidade ostensiva. Sociopatas da imagem são aqueles que não conseguem existir sem tornar maximamente visível a própria existência. Esta em um modo muito próprio de sentir, pois se trata de um sentir patológico, é apenas uma imagem: “ser é ser percebido”. Portanto, para o sociopata da imagem tudo está reduzido à visibilidade. Porém, não se trata de uma visibilidade qualquer, mas sim de uma visibilidade extremada. Quanto mais cresce o alcance das redes sociais, desaparecendo os espaços coletivos concretos de convivência, maior o número de sociopatas da imagem. Pois, a lógica da ostentação tem como hábitat natural as redes sociais e os mass medias. Todos querem tomar parte no espetáculo, nem que lhe caiba o papel de figuração ou do ridículo, pois ficar de fora do espetáculo significa o fracasso social. Por conseguinte, a fim de evitar o fracasso, a maior parte do cristianismo ocidental resolveu unir fé e ostentação.
Na lógica da ostentação são consideradas reais, depositárias de crédito e afetividade as coisas que fazem sucesso, porém, cumpre lembrar, este último só é alcançado com visibilidade, ou seja, com ostentação. Ora, para não perder espaço, o cristianismo ocidental, em seus mais diversos credos, não viu outra saída para sobreviver, ante o avanço da secularização, senão adequar-se à ostentação imperante. Estranha saída esta, que o cristianismo ocidental adotou: usar as formas mais avançadas da secularização para barrar a secularização, usar as formas mais avançadas do “profano” para comunicar o “sagrado”. Assumindo esta alternativa, não basta ser cristão, é preciso apresentar uma imagem condizente com o credo. Não só isso, é preciso atrair a maior visibilidade possível, logo é preciso ostentar a imagem que se quer incessantemente visível. Porém, como afirmado anteriormente, toda imagem na atualidade é potencialmente violenta, logo o cristão que aderiu à lógica da ostentação, é, por princípio violento, e uma vez submetido à ostentação, torna-se um fundamentalista inveterado, pois traz para o reino do imagético algo que lhe é estranho: a afirmação da posse do verdadeiro, o monopólio da verdade. Ou seja, o caráter de Ser que não se coaduna com o caráter de pura Aparência do imagético. Apresenta-se, pois, no caso do cristianismo ostentação uma tensão no âmbito do reino do imagético. Uma tensão já bastante discutida na tradição cultural do ocidente: a tensão entre Ser e Aparecer, Essência e Aparência, entre a realidade das coisas e suas respectivas imagens.
Adequado á ostentação, o homem religioso cristão ocidental não quer se desfazer de suas “verdades”, daquilo que para ele constitui o seu ser mais essencial. Porém, no reino das imagens, da pura aparência, noções como verdade e essência inexistem, perderam sentido de realidade, posto que: “assim é, se lhe parece”. Na visibilidade ostensiva midiática não são possíveis sinceros e honestos anúncios de verdade, promessas de um Reino divino, profecias ou messianismos. Não há nem messias, nem imagens de messias, pois a própria imagem, o imagético é o Messias. A imagem é o messias, posto que se instaurou um novo reino, uma nova ordem, onde não há mais disputas. Só há disputas e embates mortais onde se acredita estar de posse da verdade, e na posse da verdade não há lugar para aparências, ou se é ou não é. Todavia, no reino do imagético, no império da pura aparência não se disputa sobre a veracidade ou falsidade de algo, não se trata de ser ou não ser, mas apenas de aparecer. Não importa os desnudamentos de verdades essências, importa somente a circulação das imagens, e as imagens não arrogam para si nem veracidade, nem falsidade, pedem apenas visibilidade extremada,
ou seja, ostentação. Quanto mais imagens circulam, maior a visibilidade, quanto maior a visibilidade, maior o sucesso, e fazendo sucesso, se permanece. Ora, mais o que importa não é justamente permanecer, perdurar, alocar-se na duração da visibilidade? Não é esta, pois, a lógica inerente ao cristianismo ostentação? Quanto mais visível, quanto mais obedecer à paranoia da imagética hiperbólica, mais o credo assumido se fortalece: eis a lógica do cristianismo ostentação. Assim, a máxima de nosso tempo se estabelece sobre uma religiosidade completamente derrotada pela ordem prevalente. Ante a derrota, para evitar uma exposição ao ridículo, parece não haver outra opção. Resta apenas reproduzir, copiar, fazer remakes, seguir o modus operandi do “vencedor”. Contudo, tal completa adequação ao status quo não significa o desaparecimento da tensão apontada anteriormente. Não se pode viver arrogando-se o monopólio da verdade, assumindo o caráter de ser, no reino onde domina o imagético, o puro aparecer, a visibilidade ostensiva quem não se quer nem verdadeira, nem falsa, não se arroga portadora de nenhuma verdade ou parâmetro moral: o que importa é aparecer. Desse modo, ou se recusa o primado do ser sob o aparecer, ou não se entra completamente no reino do imagético. A porta para entrar no reino do imagético é larga, todos podem entrar, mas se pede um assentimento total. Tal reino pede de seus súditos apenas o puro parecer, ou seja, nada de se arrogar estatuto de verdade ou realidade.
Por isso, resta apenas uma indagação apelativa: Cristão, o que vais ostentar na continuidade, quando a tensão entre a ostentação e o teu credo se tornar mortalmente patente? Irás ostentar a própria morte da singularidade da mensagem outrora proclamada? Se assim for, inicia as exéquias, sem perder de vista que hoje até mesmo a morte pode ser ostentada. Sem perder de vista também que a nova ordem ao qual tu te adéquas oferece um tipo de ressurreição: aquela por meio das cópias, através do rito do remake. Contudo, uma vez aceitando-se a vida eterna da cópia, torna-te um apóstata completo da tua fé, e não mais apenas potencialmente, pois perde sentido toda busca por um cristianismo autêntico. Posto que, da autenticidade, daquilo que se impõem como integralmente original não resta espaço para cópias. Por fim, lembra-te que nos teus evangelhos é manifesto que não poderás servir a dois senhores. Escolhe, pois: ou o cristo Midiático, ou o Cristo dos Evangelhos. Não poderás permanecer para sempre sob a forma do Cristianismo Ostentação: ou se cristianiza, ou se ostenta. A manutenção dos dois significa a renuncia da própria fé. Mais que isso, Cristianismo ostentação não éAssim, nem objetividade, nem subjetividade, nem dentro, nem fora, sem verticalidades: há apenas as horizontalidades das aparências e das imagens. Se todo “cristão” é um apóstata em potencial, em virtude da ordem econômica perversa na qual se insere, também é atrativamente convidado a ser mais um sociopata da imagem, uma vez que é convidado a reproduzir, cinicamente ou “inocentemente”, a visibilidade ostensiva. Sociopatas da imagem são aqueles que não conseguem existir sem tornar maximamente visível a própria existência. Esta em um modo muito próprio de sentir, pois se trata de um sentir patológico, é apenas uma imagem: “ser é ser percebido”. Portanto, para o sociopata da imagem tudo está reduzido à visibilidade. Porém, não se trata de uma visibilidade qualquer, mas sim de uma visibilidade extremada. Quanto mais cresce o alcance das redes sociais, desaparecendo os espaços coletivos concretos de convivência, maior o número de sociopatas da imagem. Pois, a lógica da ostentação tem como hábitat natural as redes sociais e os mass medias. Todos querem tomar parte no espetáculo, nem que lhe caiba o papel de figuração ou do ridículo, pois ficar de fora do espetáculo significa o fracasso social. Por conseguinte, a fim de evitar o fracasso, a maior parte do cristianismo ocidental resolveu unir fé e ostentação.
Na lógica da ostentação são consideradas reais, depositárias de crédito e afetividade as coisas que fazem sucesso, porém, cumpre lembrar, este último só é alcançado com visibilidade, ou seja, com ostentação. Ora, para não perder espaço, o cristianismo ocidental, em seus mais diversos credos, não viu outra saída para sobreviver, ante o avanço da secularização, senão adequar-se à ostentação imperante. Estranha saída esta, que o cristianismo ocidental adotou: usar as formas mais avançadas da secularização para barrar a secularização, usar as formas mais avançadas do “profano” para comunicar o “sagrado”. Assumindo esta alternativa, não basta ser cristão, é preciso apresentar uma imagem condizente com o credo. Não só isso, é preciso atrair a maior visibilidade possível, logo é preciso ostentar a imagem que se quer incessantemente visível. Porém, como afirmado anteriormente, toda imagem na atualidade é potencialmente violenta, logo o cristão que aderiu à lógica da ostentação, é, por princípio violento, e uma vez submetido à ostentação, torna-se um fundamentalista inveterado, pois traz para o reino do imagético algo que lhe é estranho: a afirmação da posse do verdadeiro, o monopólio da verdade. Ou seja, o caráter de Ser que não se coaduna com o caráter de pura Aparência do imagético. Apresenta-se, pois, no caso do cristianismo ostentação uma tensão no âmbito do reino do imagético. Uma tensão já bastante discutida na tradição cultural do ocidente: a tensão entre Ser e Aparecer, Essência e Aparência, entre a realidade das coisas e suas respectivas imagens.
Adequado á ostentação, o homem religioso cristão ocidental não quer se desfazer de suas “verdades”, daquilo que para ele constitui o seu ser mais essencial. Porém, no reino das imagens, da pura aparência, noções como verdade e essência inexistem, perderam sentido de realidade, posto que: “assim é, se lhe parece”. Na visibilidade ostensiva midiática não são possíveis sinceros e honestos anúncios de verdade, promessas de um Reino divino, profecias ou messianismos. Não há nem messias, nem imagens de messias, pois a própria imagem, o imagético é o Messias. A imagem é o messias, posto que se instaurou um novo reino, uma nova ordem, onde não há mais disputas. Só há disputas e embates mortais onde se acredita estar de posse da verdade, e na posse da verdade não há lugar para aparências, ou se é ou não é. Todavia, no reino do imagético, no império da pura aparência não se disputa sobre a veracidade ou falsidade de algo, não se trata de ser ou não ser, mas apenas de aparecer. Não importa os desnudamentos de verdades essências, importa somente a circulação das imagens, e as imagens não arrogam para si nem veracidade, nem falsidade, pedem apenas visibilidade extremada,
ou seja, ostentação. Quanto mais imagens circulam, maior a visibilidade, quanto maior a visibilidade, maior o sucesso, e fazendo sucesso, se permanece. Ora, mais o que importa não é justamente permanecer, perdurar, alocar-se na duração da visibilidade? Não é esta, pois, a lógica inerente ao cristianismo ostentação? Quanto mais visível, quanto mais obedecer à paranoia da imagética hiperbólica, mais o credo assumido se fortalece: eis a lógica do cristianismo ostentação. Assim, a máxima de nosso tempo se estabelece sobre uma religiosidade completamente derrotada pela ordem prevalente. Ante a derrota, para evitar uma exposição ao ridículo, parece não haver outra opção. Resta apenas reproduzir, copiar, fazer remakes, seguir o modus operandi do “vencedor”. Contudo, tal completa adequação ao status quo não significa o desaparecimento da tensão apontada anteriormente. Não se pode viver arrogando-se o monopólio da verdade, assumindo o caráter de ser, no reino onde domina o imagético, o puro aparecer, a visibilidade ostensiva quem não se quer nem verdadeira, nem falsa, não se arroga portadora de nenhuma verdade ou parâmetro moral: o que importa é aparecer. Desse modo, ou se recusa o primado do ser sob o aparecer, ou não se entra completamente no reino do imagético. A porta para entrar no reino do imagético é larga, todos podem entrar, mas se pede um assentimento total. Tal reino pede de seus súditos apenas o puro parecer, ou seja, nada de se arrogar estatuto de verdade ou realidade.
Por isso, resta apenas uma indagação apelativa: Cristão, o que vais ostentar na continuidade, quando a tensão entre a ostentação e o teu credo se tornar mortalmente patente? Irás ostentar a própria morte da singularidade da mensagem outrora proclamada? Se assim for, inicia as exéquias, sem perder de vista que hoje até mesmo a morte pode ser ostentada. Sem perder de vista também que a nova ordem ao qual tu te adéquas oferece um tipo de ressurreição: aquela por meio das cópias, através do rito do remake. Contudo, uma vez aceitando-se a vida eterna da cópia, torna-te um apóstata completo da tua fé, e não mais apenas potencialmente, pois perde sentido toda busca por um cristianismo autêntico. Posto que, da autenticidade, daquilo que se impõem como integralmente original não resta espaço para cópias. Por fim, lembra-te que nos teus evangelhos é manifesto que não poderás servir a dois senhores. Escolhe, pois: ou o cristo Midiático, ou o Cristo dos Evangelhos. Não poderás permanecer para sempre sob a forma do Cristianismo Ostentação: ou se cristianiza, ou se ostenta. A manutenção dos dois significa a renuncia da própria fé. Mais que isso, Cristianismo ostentação não é uma morte qualquer, mas um suicídio cínico da própria fé.


Fran Alavina.

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