sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ABERTURA OFICIAL DO SIMPÓSIO TEOLÓGICO DOS 50 ANOS CONCÍLIO VATICANO II E OS 40 ANOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO




Fortaleza, 30 de Agosto de 2012.

Amigos e amigas, boa noite! Eu sou Cleide e eu João

É com grande alegria que nós do Movimento Formação Cristã Libertadora recebemos vocês, para juntos e juntas, dialogarmos sobre tema tão relevante para a Igreja como para a sociedade em geral. Antes, de fazer referencia ao tema, torna-se necessária uma apresentação do que é o Movimento Formação Cristã Libertadora e em que consiste a sua existência.
O Movimento por uma Formação Cristã Libertadora tem mais de um ano de existência, ele nasceu de uma insatisfação com a crescente irrelevância do ensino teológico-catequético na preparação de cristão para as grandes questões humanitárias de nossa época. Somos homens e mulheres de diversas denominações cristãs que nos organizamos para somar forças, afim de oferecer uma alternativa na concepção/vivência do ser cristão, tentando, através de uma reflexão séria e adulta apresentar para as pessoas com uma linguagem moderna  que “outro Cristianismo é possível”. Queremos praticar uma vivência cristã, sensível ao drama dos empobrecidos e marginalizados de nossa sociedade, respeitador e acolhedor no trato com pessoas de outras orientações de vida e aberto para a vivência sadia com as diversas expressões de fé.
Em 2011, oferecemos dois colóquios teológicos e este ano mais um, que abordaram questões relevantes a experiência do ser cristão: o primeiro teve como tema,“E vós, quem dizeis que eu sou?” Tratou dos diversos imaginários que foram criados acerca de Jesus de Nazaré, o segundo, aprofundou a temática da Igreja com o tema, “Jesus anunciou o Reino de Deus, vieram as Igrejas”. E neste ano, nosso colóquio tratou da experiência da emancipação humana, tentando demonstrar em que sentido às Igrejas foram fontes de emancipação da humanidade e/ou expressões de opressão. Todos esses colóquios tiveram como objetivo maior preparar o público que conosco refletiu, para comemorar, neste ano de 2012, os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da Teologia da Libertação. Alegre motivo de estarmos aqui nesta noite!


Em nosso simpósio queremos discutir como o Concílio Vaticano II foi expressão maior da abertura da Igreja para os “tempos modernos”, modificando de forma significativa a relação da Igreja com as ciências seculares e desenvolvendo uma postura dialogal, não condenatória, além de ser um “aggiornamento” para a própria vida eclesial. A atualização do Concílio Vaticano II para a América Latina, desenvolveu junto com cristãos comprometidos com a libertação do povo, que era oprimido pelas ditaduras e pelos mais diversos tipos de explorações (econômica, social, política), a conhecida, polêmica e sempre presente, desde então, Teologia da Libertação. Queremos neste evento relembrar em que consiste o seu ser cristão, e quais são as mudanças significativas e irrenunciáveis que ela trouxe para Igreja, sobretudo, da América Latina.
Não podemos deixar de agradecer as entidades que nos ajudaram a realizar este evento: a livraria Paulus, Vozes, a Fundação Beto Sturdat, O Grupo e ao Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja, na pessoa da Conceição, a eles nosso muito obrigado!
Na preparação deste evento houveram muitas dificuldades e pessoas que, de certa forma, tentaram atrapalhar, desacreditar e rotular de forma negativa nossa empreitada. Para elas, a Canção dos Violeiros  diz o seguinte:

 “A defesa é natural. Cada qual com os que nascem, seus estilos de agradar. Uns nascem pra trabalhar, outros nascem para a briga, outros vivem de intriga e outros de negociar. Outros vivem de enganar, o mundo só presta assim: é um bom, outro ruim e outro num tem jeito pra dar. E pra acabar de completar: quem tem o mel da o mel, quem tem o fel da o fel, quem nada tem, nada dar”.

Queremos, portanto, declarar aberto o Simpósio Teológico – 50 anos do Concílio Vaticano II e 40 anos da Teologia da Libertação: o que o Espírito diz as Igrejas?

 SIMPÓSIO SOBRE OS 50 ANOS DO CONCÍLIO VATICANO II E OS 40 ANOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

          Conferência com a teóloga MERCEDES BUDALLÉS               Hoje (31/08/12) às 19h. Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja (rua Rodrigues Junior, nº 300).




Informações: 86094904 - João/87289826 - Cleide

             

Simpósio Teológico - Fotos

A lua comparece ao Simpósio


Somos resistentes
 
 
Dom Edmilson da Cruz prestigia o Simpósio
 
 
Cleide e João abrem o Simpósio 
 
 
 Pe. Lino apresenta Dom Tomás Balduíno
 
 
 Homenagem com poesia à Dom Tomás
 
 Centro de Pastoral
 
 
 Simpósio Teológico no Centro de Pastoral
 
 MovimentAÇÃO
 
 
 Paulus sempre nos apoiando
 
 
 Atentos


 Atenção a fala de Dom Tomás

A vida pede reflexão


 Dom Tomás Balduíno

 Intervenções

 Mais intervenções

 Mulheres consagradas prestigiam o Simpósio


 Adriano entrevista Dom Tomás


 Movimento por uma Formação Cristã Libertadora

terça-feira, 28 de agosto de 2012

50 ANOS DO CONCÍLIO VATICANO II E 40 ANOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: O QUE FOI QUE HOUVE?



Durante este ano são celebrados dois eventos de maior importância da e para a Igreja Católica, como também para toda a sociedade:
 50 anos do Concílio Vaticano II e 40 anos da Teologia da Libertação.
Lamentavelmente o primeiro acaba de ser pouco vivido quanto a sua importância e relevância no que diz respeito à visão e à prática que deveríamos ter a respeito da missão da nossa Igreja como “Povo de Deus”, isto é, uma Igreja não-clerical e sim laical, o que significa dizer uma Igreja na qual é dada aos leigos, ao povo a devida importância no exercício de suas tarefas, podendo assumir seus compromissos de maneira adulta, sem ser tutelado por quem quer que seja e que teria como resultado que esta Igreja, inserida no mundo, tornar-se-ia de fato “sal da terra” e “luz do mundo”.
 Quanto à Teologia da Libertação constatamos lamentavelmente que a mesma tem pouco reconhecimento hoje em dia, tendo passado por julgamentos negativos e infundados, que não cessam até aos nossos dias, principalmente por pessoas que nunca leram uma página sequer de tantos escritos de maior profundeza e reflexão cristã sobre a vida, a fé, a Igreja e o mundo.
 Dom Aloísio afirmava a respeito desta Teologia “que ela concretizou a vivência da fé, partindo da própria realidade e levando a uma pastoral que toca a vida do povo.” Dom Aloísio afirma “que a TdL trouxe a problemática do povo definitivamente para dentro da Igreja”.
Todos que estiverem interessados em refletir a respeito da importância do Concílio Vaticano II e da Teologia da Libertação são convidados a participar de um simpósio teológico que realizar-se-á no Centro Pastoral (rua Rodrigues Junior, 300).
 Entrada franca.
Na quinta-feira, às 19:00, estará conosco Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás, que dará seu testemunho sobre a “fidelidade e infidelidade da nossa Igreja ao espírito do Concílio Vaticano II”.
 Na sexta-feira, também às 19:00, será a vez da teóloga Mercedes Budallés Diez, que refletirá sobre a “Igreja-fermento de emancipação humana dentro da Igreja-massa dos eventos midiáticos”.
 E sábado, a partir das 08:00, Padre Francisco de Aquino Junior deseja refletir conosco acerca de “temas da Teologia da Libertação que são irrenunciáveis ao caminhar da Igreja”.
Aproveitemos deste momento para nos enriquecer na caminhada da nossa fé e da vivência a partir de uma Igreja “Povo de Deus”. Nunca somos velhos, sabidos, nem mesmo sábios demais para podermos aprender algo de bom para nossa vida!
Geraldo Frencken

Concílio Vaticano será debatido


Simpósio

Concílio Vaticano será debatido

28.08.2012
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1175195

Evento é do Movimento Formação Cristã Libertadora, com pessoas de várias denominações

O Movimento de Formação Cristã Libertadora realiza, na cidade de Fortaleza, nos próximos dias 30, 31 de agosto e 1º de setembro, o Simpósio Teológico “50 Anos do Concílio Vaticano II e 40 Anos da Teologia da Libertação - O que o Espírito diz às Igrejas?”. O evento será realizado no Centro Pastoral Maria Mãe da Igreja, no Centro da cidade.

Estarão presentes ao evento o bispo-emérito do estado de Goiás e um dos fundadores e assessor da Comissão Pastoral da Terra, Dom Tomás Balduíno, além da teóloga Mercedes de Budallés Diez, e do padre Francisco de Aquino Júnior, doutor em Teologia na Westfälischen Wilhelms-Universität de Münster, da Alemanha, e presbítero da Diocese do município de Limoeiro do Norte.

Conforme uma das coordenadoras do evento, Stella Maris, junto aos debates relacionados ao Concílio Vaticano II e à Teologia da Libertação, também serão ressaltados questionamentos sobre a forma como a Igreja Católica adota o ensino cristão em Fortaleza, por exemplo, assim como “o porquê do fechamento da igreja contra a teologia da libertação”, conforme Stella.

Críticas

Ela ainda destaca a necessidade de mais espaços para os leigos debaterem as questões relacionadas ao cristianismo e acrescenta que serão levantadas críticas construtivas sobre os temas.

O Movimento Formação Cristã Libertadora reúne em sua composição uma série de homens e mulheres de diversas denominações cristãs, preocupados com a crescente irrelevância do ensino teológico-catequético na preparação de cristãos para as grandes questões humanitárias debatidas na atualidade.

O objetivo maior é mostrar que “outro Cristianismo é possível”, moderno e esclarecido na sua compreensão das verdades da fé, sensível e combativo frente ao drama dos empobrecidos e marginalizados na nossa sociedade, respeitoso e acolhedor no trato com pessoas de outras orientações de vida.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

'O Vaticano é um antro de misóginos



Maria João Sande Lemos*

Sara Rodrigues: O recém-eleito prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo alemão, Gerhard Müller, considera que a exclusão das mulheres da ordenação sacerdotal "segue a vontade e o chamamento de Cristo". Como comenta estas declarações?

Lemos: Isso é uma inverdade. Não há absolutamente nada nos Evangelhos que diga que as mulheres não podem aceder ao sacerdócio. Aliás, Cristo não ordenou ninguém, pelo contrário, ele foi contra a instituição sacerdotal estabelecida. Nos primeiros tempos do Cristianismo havia comunidades lideradas por mulheres e por homens e isso está comprovado, por exemplo, nas cartas de S. Paulo, onde são dadas instruções diretas a mulheres para que conduzam as comunidades de determinada forma. O anúncio da ressurreição de Cristo foi dado por uma mulher. Há momentos fundamentais na pregação de Cristo em que ele mostra o sentimento que tinha de que as mulheres eram as grandes divulgadoras da sua mensagem.

S.R: Estas declarações são uma tentativa de travar o assunto?

Lemos: Não, apenas servem para confortar a ala mais conversadora da Igreja. Tenho a certeza de que 80% do Clero não pensa assim, mas como têm as suas carreiras obedecem. Dizem uma coisa quando estão no púlpito, mas off the record dizem outra.

S.R.:Então, há uma voz oficial e outra oficiosa...

Lemos: ... há um mainstream católico e, concordo, uma voz oficiosa que se traduz num sentimento generalizado de que as coisas deveriam mudar e, também, de desconforto em relação à maneira como o Vaticano funciona. O poder absoluto corrompe absolutamente e aquilo é um poder absoluto. O Vaticano não é nenhum santuário.

S.R.: A mulher ainda é malvista pela Igreja Católica?

Lemos: Sim, completamente. As mulheres são excluídas dos centros de decisão da Igreja. Basta ver o recente caso das freiras americanas: um grupo de mulheres muito respeitadas pela sociedade local porque ajudam os mais carenciados, mas como levantaram a voz a favor dos oprimidos e não se submeteram a determinadas ordens clericais o Vaticano enviou um comité de investigação. Enquanto isso, não mandaram investigar as dioceses onde há escândalos de pedofilia e assédio sexual do clero masculino.

S.R.: Foram usados dois pesos e duas medidas para homens e mulheres.

Lemos: Exatamente. O Vaticano é um antro de misóginos.

S.R.: Como assim?

Lemos: A não ordenação de mulheres é só uma birra. Os padres foram casados até ao séc. XII, a partir daí introduziram o celibato, que foi uma medida burocrática por causa de questões de heranças e partilhas. Enquanto eles não resolverem o fim do celibato obrigatório, a questão das mulheres estará sempre [em segundo plano]... porque somos o demônio. Foram educados com horror às mulheres.

S.R.: O que falta à Igreja?

Lemos: Amor. Enquanto Jesus significava amor, solidariedade e compaixão, a Igreja tornou-se seca, árida, quezilenta e sempre contra tudo. É um espaço de exclusão e não de abertura.

S.R.: Que balanço faz destes sete anos de pontificado do Papa Bento XVI?

Lemos: Péssimo. Acho que é uma pessoa dura e, pelo que ele fez ao longo de 30 anos como braço-direito de João Paulo II, nomeadamente ao nível dos castigos permanentes aos teólogos, não tenho boa impressão dele.

S.R.: A governação deste Papa é autocrática?

Lemos: Sim, aliás monárquica absoluta. E outra coisa que me faz impressão é que ele voltou a usar aqueles chapéus... como é que num mundo tão pobre, os cardeais andam vestidos de seda e rendas. O luxo das igrejas horroriza-me.


*Quem é Maria João Sande Lemos?
Nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, em 1938. Esteve na origem, ao lado de Sá Carneiro, do PSD.
Ativista em várias causas, trabalhou na Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres e participou em conferências da ONU sobre o tema.
Em 1992, fez parte da equipa de observadores que acompanhou as eleições em Angola e, em 1997, foi uma das cofundadoras do braço português do Movimento Internacional Católico Nós Somos Igreja.



Entrevista especial com Faustino Teixeira

O campo religioso brasileiro na ciranda dos dados. 

A tarefa de encarar a diversidade religiosa como um valor e uma riqueza é também um repto que se abre para as diversas igrejas cristãs, assinala o professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da UFJF.
"“Se observarmos os dados dos últimos censos, a tendência da diminuição da declaração de crença católica é nítida: 1970 (91,1%), 1980 (89,2%), 1991 (83,3%), 2000 (73,6%) e 2010 (64,6%). E as projeções estatísticas indicam que até 2030 os católicos terão um índice menor que 50% e em 2040 ocorrerá um empate com o grupo evangélico”, constata o docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Faustino Teixeira, ao comentar, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, os dados do Censo 2010.
Para Faustino, é curioso constatar como as estratégias realizadas no campo da Renovação Carismática Católica – RCC, com a presença dos padres cantores e uma busca de ação mais viva na área midiática, não surtiram os efeitos desejados. “As iniciativas realizadas revelam-se tímidas diante de outras implementadas pelos evangélicos, como a Marcha para Jesus, que se repete anualmente com grande sucesso”, diz. E completa: “A meu ver, vamos ter que nos acostumar com um país cada vez mais pontuado por diversidade religiosa e também por distintas opções espirituais, religiosas ou não. Saber lidar com essa pletora de inscrições de sentido constitui um dos grandes desafios desse novo milênio”.
Faustino Teixeira (foto) é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, pesquisador do CNPq e consultor do ISER-Assessoria. É pós-doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Entre suas publicações, encontram-se Teologia e pluralismo religioso (São Bernardo do Campo: Nhanduti Editora, 2012); Catolicismo plural: dinâmicas contemporâneas (Petrópolis: Vozes, 2009); Ecumenismo e diálogo inter-religioso (Aparecida do Norte: Santuário, 2008); Nas teias da delicadeza: Itinerários místicos (São Paulo: Paulinas, 2006); e No limiar do mistério. Mística e religião (São Paulo: Paulinas, 2004). Acaba de lançar um novo livro intitulado Os caminhos da mística (São Paulo: Paulinas, 2012).

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Que mapa religioso se desenha no Brasil a partir dos dados divulgados no último censo?
Faustino Teixeira – Sem dúvida, um mapa marcado por uma diversidade religiosa que se anuncia. Com respeito ao censo de 2010, algumas tendências se evidenciaram, como a diminuição dos católicos romanos, que caíram de 73,6% para 64,6% e o crescimento dos evangélicos, sobretudo pentecostais, que passaram de 15,4% para 22,2%. Numa população de 190,7 milhões de pessoas, os católico-romanos somam 123,2 milhões e os evangélicos 42,2 milhões, dos quais 25,3 milhões de origem pentecostal. Verificou-se ainda na última década um aumento percentual dos sem religião, mas um pouco abaixo do esperado, de 7,4% para 8,0% (15,3 milhões).
Cristianismo ainda em destaque
O país permanece com uma marca cristã, já que 86,8% da declaração de crença do último censo girou em torno das tradições católica ou evangélica. As outras tradições religiosas no país ainda são tímidas, em termos numéricos, ainda que sua influência possa ser maior que a expressa nos simples dados, como no caso do espiritismo, que, apesar de comportar apenas 2,0% da declaração de crença (3,8 milhões), tem uma ressonância social bem maior no país.
Tradições religiosas afro-brasileiras
As duas grandes expressões das tradições religiosas afro-brasileiras, a umbanda e o candomblé, continuam tendo o mesmo registro estatístico do censo anterior, com 0,3% de declaração de crença (umbanda com 407,3 mil e candomblé com 167,3 mil). As demais religiosidades permanecem apertadas numa estreita faixa de 2,7%, onde estão incluídas algumas que começam a despontar com uma presença mais definida: budismo (243,9 mil), judaísmo (107,3 mil), novas religiões orientais (155,9 mil) e o islamismo (35,1 mil). Há também nesse bloco a presença das tradições indígenas, cuja declaração de crença envolveu 63 mil pessoas.

IHU On-Line – O que as pessoas esperam das religiões a ponto de fazerem trânsitos constantes?

Faustino Teixeira – De fato, as religiões funcionam como um dossel protetor, fornecendo significado e sentido para as pessoas. Como tão bem mostrou Peter Berger, as religiões têm o potencial de situar ou integrar as experiências-limites num quadro de significado, favorecendo um referencial importante para a construção e manutenção da identidade. As pessoas realmente transitam em busca de significado para a vida, e isso pode ser constatado no Brasil. O brasileiro, como diz o clássico personagem de Guimarães Rosa, gosta de “muita religião” e não se conforma com uma única parada, pois para ele uma só “é pouca”. Ele precisa ampliar o seu campo de proteção contra o infortúnio. Os dados dos últimos censos apontam para essa realidade da experimentação religiosa, mas não se consegue ainda captar com precisão a declaração de múltipla religiosidade no país. Trata-se de algo muito comum no Brasil, embora o censo tenha registrado apenas 15,3 mil pessoas que apontaram para isso.
Catolicismo como “celeiro”
O catolicismo exerce no país o papel de “doador universal”, ou seja, “o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos” (P. Montero e R. Almeida). Esse trânsito e mobilidade estão muito vivos entre os evangélicos, sobretudo os pentecostais, que circulam pelas denominações que não param de crescer nas últimas décadas no Brasil. A título de exemplo, em pesquisa realizada em 1992, pelo Núcleo de Pesquisa do Instituto de Estudos da Religião – ISER na área metropolitana do Rio de Janeiro, constatou-se a média de criação de cinco novas igrejas por semana ou uma igreja por dia útil no triênio de 1990-1992. Outra pesquisa realizada pelo ISER e desenvolvida em 1994 sobre a presença evangélica no Grande Rio evidenciou que cerca de 70% dos evangélicos daquela região “não nasceram nem foram criados num lar evangélico”. Ou seja, são fiéis que migraram de outras tradições religiosas, sobretudo do catolicismo (61%).
Trânsito religioso
Esse fenômeno de experimentação e trânsito religioso é também muito vivo entre aqueles que se declaram sem religião. Como sabemos, esse grupo de declarantes é composto, sobretudo, por pessoas que se desencantaram com suas filiações tradicionais e encontram-se “desencaixadas”, transitando em busca de vínculos sociais e espirituais. Para eles, o que conta mais são os “elementos subjetivos”, e de acordo com o foro íntimo, buscam um nicho de sentido que possa responder às suas expectativas pessoais. Eles se movem como peregrinos do sentido entre as instâncias nomizadoras. Em recente entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, a socióloga Sílvia Fernandes situou muito bem a questão: “Cada vez menos ouvimos a expressão ‘fulano se converteu’, mas é mais comum ouvirmos ‘fulano agora é de tal religião’. Assim, a transitoriedade da adesão religiosa é uma marca desses tempos”.
IHU On-Line – Em vinte anos, a população católica diminuiu 22%, ou seja, em proporção, a Igreja Católica perdeu mais de um quinto de seus fiéis. Em seu entendimento, a que se deve este fato?
Faustino Teixeira – A diminuição da declaração de crença católica vem se acentuando há mais tempo. Se observarmos os dados dos últimos censos, essa tendência é nítida: 1970 (91,1%), 1980 (89,2%), 1991 (83,3%), 2000 (73,6%) e 2010 (64,6%). E as projeções estatísticas indicam que até 2030 os católicos terão um índice menor que 50% e em 2040 ocorrerá um empate com o grupo evangélico. Não é tarefa muito simples indicar as razões que levaram a tal situação. Pode-se aventar a hipótese de que a estratégia missionária da Igreja Católica nas últimas décadas tem fissuras importantes. Verifica-se que o repertório doutrinal mantém-se defasado com respeito aos sinais dos tempos. Há muita resistência na igreja católico-romana para atualizar a reflexão e modernizar a postura pastoral em campos que são nodais, como os da atuação na história, no diálogo ecumênico e inter-religioso e no âmbito da moral. Nota-se um claro enrijecimento da conjuntura eclesiástica nos últimos 35 anos, e não há sinais de arejamento eclesial.
E é também curioso constatar como as estratégias realizadas no campo da Renovação Carismática Católica – RCC, com a presença dos padres cantores e uma busca de ação mais viva na área midiática, não surtiram os efeitos desejados. As iniciativas realizadas revelam-se tímidas diante de outras implementadas pelos evangélicos, como a Marcha para Jesus, que se repete anualmente com grande sucesso.
Ingênuo otimismo
Outro dado intrigante a respeito é a incapacidade dos setores eclesiásticos, no âmbito católico-romano, de perceberem com clareza a dimensão da crise em curso. Diante dos dados apresentados, reage-se com ingênuo otimismo. Ou se diz que aqueles que permanecem católicos são de fato os mais convictos, e que o catolicismo privilegia não o traço quantitativo, mas qualitativo; ou então se busca firmar um outro olhar, sinalizando, na contramão, a vitalidade do catolicismo. É o que se verificou com a reação de muitos clérigos diante dos dados apresentados no último censo.
Aos dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, buscou-se contrapor os dados do último censo realizado pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais – CERIS – a respeito da Igreja Católica no Brasil, cobrindo o primeiro semestre de 2011, tendo como referência o ano de 2010. Segundo os dados do CERIS, o catolicismo no Brasil está “vivo e vicejante”, e isso vem demonstrado pelo considerável crescimento das vocações sacerdotais e pelo aumento do número de paróquias no território nacional. O documento sinaliza que há uma “evolução no número de fiéis” e que “as novas comunidades religiosas têm também despertado esse reencantamento da fé católica”.
Para quem lê atentamente os dados do censo do IBGE e as reflexões sociológico-antropológicas que se seguiram, não há como deixar-se de surpreender com tamanha ingenuidade. Reagindo a tal ocular, o sociólogo e ex-assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Pedro Ribeiro de Oliveira – em entrevista ao IHU –, assinala: “Achar que aumentar o número de paróquias é aumentar a presença da igreja no mundo é um equívoco, no meu entender, de todo tamanho. E o segundo é dizer que a igreja está viva porque aumentou o número de padres. A igreja está mais clerical, porque aumentou o número de padres, mas o número de padres não representa a vitalidade da igreja. A vitalidade da igreja sempre foi a atividade dos leigos” .
Esta análise de Pedro Oliveira é certeira, e vem de um perspicaz analista da Igreja Católica no Brasil. Concordo plenamente com ele quando diz que a vitalidade de uma igreja se mede por sua capacidade de congregar as pessoas, de entusiasmá-las no trabalho pastoral. E isso não se vê hoje com clareza. O que existe é uma igreja que fala para dentro, que deixa de exercer o seu papel público imprescindível e que perde seu potencial de contágio evangelizador. Como assinala Pedro, “hoje o que vemos é a força de atrair para dentro, ou seja, o bom católico é aquele que está na igreja. Isso aí é o definhamento da instituição”.
IHU On-Line – As regiões onde o catolicismo mais decresceu foram naquelas de “recepção de migrantes”, nas fronteiras agrominerais do Norte e do Centro-Oeste e nas periferias dos grandes centros urbanos do Sudeste. A que se deve esse fato e como a Igreja Católica atuou para acompanhar tanto a mobilidade territorial e, principalmente, a mobilidade religiosa?
Faustino Teixeira – De fato, é nessas regiões que se verifica a crescente presença pentecostal. Se olharmos atentamente para o gráfico apresentado pelo IBGE, veremos que o maior colorido pentecostal localiza-se nas frentes de ocupação das regiões Centro-Oeste e Norte, bem como na linha litorânea das grandes metrópoles do Sudeste, em particular nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Em cidades do Rio de Janeiro, como Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Belfort Roxo, o número de evangélicos já superou o número de católicos. Estes últimos marcam sua presença mais decisiva nas regiões Nordeste, Sul e no estado de Minas Gerais. A meu ver, a Igreja Católica tem tido muita dificuldade de entender a dinâmica desta mobilidade religiosa, estando também carente de instrumentação para reagir a tal situação. O que alguns documentos da instituição assinalam como meta essencial da missão católica é “ir ao encontro dos afastados”, contrariando, de certa forma, a ideia por ela mesma defendida de que a igreja está viva e atuante.
Queda no número de religiosas
Um dado curioso apontado no censo do CERIS é a queda acentuada do número de religiosas no Brasil, que passou de 35.039, em 1961, para 33.386, em 2010. Vale lembrar que as religiosas tiveram um dos importantes trabalhos na irradiação evangelizadora. A Igreja Católica fala em buscar os afastados, mas está movida por um discurso que muitas vezes não lhes interessa ou motiva. Daí toda a “desafeição” em curso. Ela que era forte na dinâmica popular, de irradiação criadora no campo e nas periferias, deixou de incentivar ou apoiar o importante trabalho das comunidades eclesiais de base, que tinham um alcance evangelizador significativo. Como se diz com acerto, a Igreja Católica optou pelos pobres, mas não levou a sério essa opção, privilegiando um trabalho intestino e clericalizante. As igrejas se fecharam, muraram suas redondezas, protegeram-se dos incômodos outros e limitaram o tempo para a acolhida dos pobres e excluídos. Esse trabalho veio ocupado, com eficácia, pelas igrejas pentecostais, que atingem rincões inalcançáveis pela atual pastoral católica.
IHU On-Line – Em paralelo, percebe-se que há o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. O que isso significa?
Faustino Teixeira – Esse pujante crescimento pentecostal não é um exclusivo fenômeno brasileiro, mas mundial. Como mostrou Peter Berger em reflexão sobre a dessecularização do mundo, os dois maiores fenômenos verificados na cena religiosa mundial relacionam-se com a irradiação islâmica e a explosão pentecostal. A presença pentecostal, sinalizada por Harvey Cox com a imagem do “fogo do céu”, é um fenômeno impressionante e que merece dedicada atenção. O seu crescimento no Brasil é mesmo espantoso, embora se perceba um traço de pulverização, em razão das constantes divisões ocorridas em seu meio e da criação de novas igrejas a cada momento e nos espaços mais exíguos.

Disputas
Algumas igrejas pentecostais históricas, como a Assembleia de Deus, mostram um inaudito vigor, com presença em todos os cantos do país. É a igreja evangélica de denominação pentecostal mais numerosa, contando hoje com 12,3 milhões de adeptos, seguida pela Congregação Cristã do Brasil, com 2,2 milhões de fiéis. Não há semelhante registro de presença entre as evangélicas de missão, com exceção da Igreja Batista, que congrega 3,7 milhões de adeptos. Verificam-se, porém, nos últimos anos disputas acirradas por fiéis no âmbito de algumas pentecostais, como é o caso da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD e a Igreja Mundial do Poder de Deus. Segundo os dados do último censo, a IURD perdeu 228 mil fiéis na última década, quebrando o ritmo de um crescimento que era notável nos anos 1990.
IHU On-Line – Como vê o futuro das religiões no Brasil após a divulgação dos dados do Censo?
Faustino Teixeira – A meu ver, vamos ter que nos acostumar com um país cada vez mais pontuado por diversidade religiosa e também por distintas opções espirituais, religiosas ou não. Saber lidar com essa pletora de inscrições de sentido constitui um dos grandes desafios desse novo milênio. A tarefa de encarar a diversidade religiosa como um valor e uma riqueza é também um repto que se abre para as diversas igrejas cristãs. Nada mais problemático hoje em dia do que continuar defendendo a precária ideia de que as outras religiões são destinadas a encontrar o seu acabamento fora de si mesmas, numa pretensa religião que englobaria em si o domínio da verdade. Nada menos plausível hoje do que uma tal ideia que, infelizmente, continua viva no repertório da Igreja Católica pós-Dominus Iesus. Gosto muito de uma passagem do Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, de 1993, onde se diz que os católicos “hão de respeitar com todo o cuidado a fé viva das outras Igrejas e Comunidades Eclesiais que pregam o Evangelho e hão de alegrar-se de que a graça de Deus frutifique entre eles” (n. 206). E cada vez mais acho que uma tal perspectiva de abertura e reconhecimento da dignidade da diferença deve ser ampliada para as outras tradições religiosas.
IHU On-Line – Como pode ser descrita a “desafeição religiosa”? Em que consiste? O que ela significa?
Faustino Teixeira – Em sua entrevista ao IHU, Pedro Ribeiro de Oliveira recuperou essa expressão sociológica que se aplica muito bem aos 15,3 milhões de pessoas que se declararam sem religião no último censo. É curioso notar que, nesse quadro dos sem religião, os que se declaram ateus ou agnósticos constituem minoria, respectivamente 615 mil e 124,4 mil declarantes. Grande parte dos sem religião estão entre aqueles que se desencaixaram de seus antigos laços e mantêm sua religiosidade com os recursos da subjetividade, mais do que com o aporte da tradição. Há também aqueles que se desafeiçoaram de suas tradições e buscam caminhos alternativos. É um segmento mais afeito ou disponível às experimentações. Vem composto por pessoas que transitam entre vários pertencimentos, sempre sedentos por vínculos sociais e espirituais.


domingo, 26 de agosto de 2012


Membro do MFCL fala ao Blog do Eliomar  
Jornal O Povo




Roberto Bezerra, membro do Movimento Formação Cristã Libertadora, concedeu entrevista ao jornalista Eliomar de Lima, em que convida a todos a participarem nos próximos dias 30/08, 31/08 e 01/09 do simpósio teológico que tratará dos 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da Teologia da Libertação.


O Simpósio terá como tema: 50 anos do Concílio Vaticano II e 40 anos da Teologia da Libertação: "O que o Espírito diz as Igrejas?".

Contamos com você!

Segue link:

http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/fortaleza-tera-simposio-em-comemoracao-aso-50-anos-do-concilio-vaticano-ii/

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A última lição de D. Helder


  Hoje, 17 de agosto de 2012, na Sé de Olinda, procedemos à exumação dos restos mortais de D. Helder. Manhã fria e chuvosa de agosto.
Depois de praticamente treze anos sepultado no chão dessa igreja, seus restos mortais repousarão ao lado dos de D. Lamartine, bispo irmão que o auxiliou no pastoreio da Arquidiocese de Olinda e Recife e dos de Pe. Henrique, mártir da ditadura que se instalou no nosso país a partir de 1964.
Envolta em seu caixão ainda restava a bandeira do Movimento dos Sem Terra, intacta, na época, um símbolo da luta de camponeses em busca de um pedaço de terra para plantar e sobreviver com suas famílias. Lembro-me do dia do enterro.
Confesso que nutria em meu íntimo a esperança de que o corpo dele estivesse intacto também, tal qual a bandeira, pois no meu pensamento isso seria um sinal poderoso para a Igreja, de que o Dom é um santo e como tal, tudo que ele lutara e escrevera e sinalizara teria que ser aceito oficialmente.
Ledo engano. Mais uma vez o profeta surpreende! Mais uma vez ele nos mostra que os pobres é que são os profetas de Deus.
Lentamente ele nos vai ensinando sua última lição, ou seria a primeira na vida plena? Não importa, é uma lição importante, um ensinamento para nós e para nossa Igreja: tudo passa, prestígio, glória, cargos, poder. Tudo é pó e ao pó tudo retorna. Outro ensinamento: os pobres são os destinatários primeiros da boa nova do Ressuscitado, pois só Ele é quem saiu do túmulo com vida, e vida plena.
Pouco a pouco a morte vai mostrando aos olhos humanos o estrago que causa, mesmo nas pessoas mais especiais e queridas. O som lúgubre, oco, de saudade, destampa as lajes do chão da Sé. Outra surpresa, o Dom foi sepultado como os leigos o são, com a cabeça voltada para a porta, e não ao contrário, como os clérigos. O que o desgaste da morte não mostra é o que os olhos da fé iluminam, como uma luz vinda do alto a nos perguntar: por que procuram o vivo dentre os mortos?
A resposta veio-me algumas horas após. Saindo dali, deu-se à luz uma criança, nos meus braços, saudável, chorando forte a plenos pulmões, inspirando e expirando o sopro da vida, o pneuma que a tudo anima.
Certamente mais um sinal do Dom, ensinando que a vida é eterna.

Assuero Gomes

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Simpósio Teológico


50 anos do Concílio Vaticano II / 40 anos da
Teologia da Libertação  
“O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS?”
APRESENTAÇÃO
O fato de que se comemora em 2012, o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962) se reveste da maior importância para as sociedades da América Latina e do Brasil, marcadas como estão por cultura e tradição católicas. A profundidade das mudanças, provocadas pelo Concílio Ecumênico, na própria vivência eclesial – reforma litúrgica, introdução da língua vernácula, valorização da Bíblia e da Teologia Patrística, redescoberta da colegialidade episcopal – bem como na relação entre Igreja e sociedade – «aggiornamento», postura dialogal, não condenatória para com as ciências seculares, a filosofia contemporânea, as outras igrejas cristãs e as religiões não cristãs – faz daquele evento eclesiástico, ainda hoje, um divisor de águas, ou melhor, de eras.
Acontece que meio século se passou, e o ímpeto da abertura e do diálogo para com as realidades seculares modernas sofreu, durante o pontificado de João Paulo II, e continua sofrendo, sob Bento XVI, sensível ação refreadora. Uma releitura neoconservadora dos documentos conciliares tem sido ensaiada desde as esferas mais altas do poder eclesiástico, responsabilizando concessões supostamente exageradas à mentalidade secular contemporânea na Igreja pela sempre mais acentuada evasão de fiéis, tanto na Europa quanto nas Américas. Uma restauração da tradição e dos símbolos católicos, acoplada a uma estratégia de forte presença midiática através de eventos de massa, seria a fórmula para enfrentar esta crise. Medidas restritivas contra teólogos e teólogas progressistas e de libertação, o fortalecimento de uma espiritualidade imediatista, de fácil apelo emocional, e um renovado dirigismo romano completam o quadro preocupante.
Quo vadis, ecclesia? (Para onde vais Igreja?) Urge abrir um debate público sobre as causas e as consequências desse processo de reinterpretação do grande Concílio, já que há indícios fortes de que uma neocristandade possa ser a meta histórica, ainda que de forma camuflada, de determinados segmentos católicos.
De não menor relevância, para o Brasil e a América Latina, se constitui o 40º aniversário de nascimento da assim chamada Teologia da que também se celebra no ano em curso. Quando o peruano Gustavo Gutierrez lançou o seu famoso livro homônimo, em 1972, a reflexão teológica – não só católica! – começou a debruçar-se, pela primeira vez em séculos, sobre as práticas libertárias e emancipatórias de cristãos e cristãs engajados na defesa dos direitos humanos e civis e na solidariedade com os oprimidos e marginalizados das sociedades latino-americanas, marcadas por gritante desigualdade social. Depois de muita incompreensão e apressadas censuras aos fundamentos e ao método da Teologia da Libertação, pretende-se agora convocar o público interessado para debater a sua originalidade e atualidade na conjuntura hodierna de Igreja e Sociedade no Brasil.
Diante deste cenário, o Movimento de Formação Cristã Libertadora (MFCL) nos convida ao diálogo e pensamento ao promover o simpósio teológico 50 Anos do Concílio Vaticano II e 40 Anos da Teologia da Libertação - O que o Espírito diz às Igrejas?.
O simpósio 50 Anos do Concílio Vaticano II e 40 Anos da Teologia da Libertação - O que o Espírito diz às Igrejas? é uma promoção do Movimento Formação Cristã Libertadora – que reúne homens e mulheres, de diversas denominações cristãs, preocupados com a crescente irrelevância do ensino teológico-catequético na preparação de cristãos para as grandes questões humanitárias da nossa época. O objetivo maior é mostrar que “outro Cristianismo é possível”, moderno e esclarecido na sua compreensão das verdades da fé, sensível e combativo frente ao drama dos empobrecidos e marginalizados na nossa sociedade, respeitoso e acolhedor no trato com pessoas de outras orientações de vida.
 
Postado por Jean dos Anjos

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

10 de Agosto de 1974, morria Frei Tito de Alencar

 
“Quando secar o rio de minha infância, secará toda dor."
(Tito de Alencar Lima)”.

Jamais se vira  um dominicano deixar o coro para ir matar-se, e não um dominicano qualquer , mas um que trazia dentro de si a história de uma pátria , e que vivera experiências universais em nosso século, tais como resistência, torturas, o exilio.
Tito foi exposto a nu ( sua alma ficou totalmente nua perante seus algozes )estes tiveram uma espécie de intuição extremamente perversa, maléfica, e que os levaram imediatamente a conhecer as debilidades de sua vitima...Como sobreviver a uma degradação tão grave da imaginação  de sí mesmo? através dos olhos de seu algoz Fleury . Existem olhares que são absolutamente mortais e monstruosos.
E o capitão  Albenaz diz; __ “Você ficará conosco por dias, se não falar, será quebrado por dentro, porque nós sabemos fazer as coisas sem deixar traços visíveis ... se sobreviver.. jamais esquecerá o preço de sua audácia..”
Esta tortura  ultrapassa o ato de intimidação , passa para o  ato da posse da vitima, por isso o carrasco não quer que a vitima morra, quer sua posse, sua alma, romper a unidade  do homem consigo mesmo.
E Tito, até tentou sobreviver...mas descobriu a imagem , monstruosa de seus algozes em seu caminho ..o torturador que o perseguia.....feito a sua imagem e semelhança, teria que destruir esta imagem, destruindo a sí mesmo. No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio paira sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se move. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balança o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda(frei betto)
Alguns já disseram que foi loucura...
Não foi loucura, foi a mais plena lucidez, era a realidade que vivia,  o  que vivia não era louco, era sofrimento, sofrimento este que não podia cancelar, ele só podia viver de modo extraordinário, de forma profunda. Sua morte  é um sinal da consciência  muito profunda da complexidade da situação em que se encontrava , em que se encontrava os brasileiros,  ele viveu até o âmago o drama de uma geração.
Como era norma da Igreja, não deveria haver sepultura religiosa para suicidas. Mas seus irmãos  do convento quebram estas normas aliás nem cogitam  e celebram  o funeral com ritos e o sepultam na terra consagrada de  seu  cemitério no bosque.
 Após sua morte,  descobriram   seus escritos em forma de poesias que manifestavam  a grande lucidez diante da vida, do sentido da vida, das contradições da vida .
E Tito  mostrou com sua morte , que buscou ser homem, profundamente homem, pois viveu a condição humana de modo acentuadamente trágica.
(stella maris)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Frei TITO VIVE

XII SEMANA CULTURAL DO ESCUTA





  10 a 19 de agosto de 2012.


Em 10 de agosto de 1973 morre Frei Tito de Alencar
 Desde 1990 o ESCUTA - Espaço Cultural Frei Tito DE ALENCAR vem celebrando essa data como simbolo de resistência e homenagem aos mártiris vitimas da ditadura militar. FREI TITO VIVE.


10/08 – Sexta

20h00min – Celebração em Memória de Frei Tito
        Celebrante: Pe. Luis Sartorel
        Participação: Zé Vicente

RUA NOEL ROSA, 150 - PICI

CONTATO: Lúcia Vasconcelos - 3290-7244
João Paulo - 8524-4884
Leonardo Sampaio 8501-0330