quarta-feira, 14 de março de 2012

A COPA DE 2014 E OS POBRES DE SEMPRE

No ano de 2014 acontecerá a Copa Mundial de futebol no Brasil.
O evento está sendo organizado pela FIFA e pela CBF e é assumido, em cheio, pelos Governos; Federal, Estaduais e Municipais das cidades-sedes, e ainda é um dos assuntos de destaque da imprensa nacional e internacional.
Ao mesmo tempo a nossa nação se sabe mergulhada em sérios problemas, especialmente na área social: os bolsões de pobreza e miséria continuam a existir e as milhares de famílias que por aí sobrevivem, continuam sem expectativa de verem alguma melhora na sua condição no seu cotidiano.
O que observamos são, entre outras questões, duas realidades tão opostas que chamam a nossa atenção.
De um lado são gastos bilhões e bilhões de reais em obras faraônicas que de repente saem do papel.
Os governantes mostram uma habilidade, nunca visto, para desenvolver projetos de melhoria nas cidades sedes.
 Do outro lado vemos que o povo, que vive em favelas, ou está sendo removido exatamente por causa destas obras, sem que receba indenizações justas, porque se alega que não há dinheiro para tal finalidade, ou, os que “moram” em áreas não interessantes para os governantes, e nem para futuros candidatos a cargos municipais, continuam absolutamente sem atenção por parte dos governos estadual e municipal.
No primeiro caso refiro-me aos moradores das comunidades do trilho que, por causa da linha do já afamado VLT, serão removidos, de qualquer jeito, para áreas não aptas e nem preparadas adequadamente para abrigar estas famílias desalojadas.
No segundo caso refiro-me aos moradores da Vila Velha III e IV, mas em especial a III. Olhe, aí está tudo errado, desde o começo do surgimento deste imenso bairro. Quem errou não foram as famílias que decidiram por morar lá, mas sim o Estado e o Município que permitiram que fosse levantado, em quatro etapas, este bairro da Vila Velha. Toda esta região é área de preservação permanente por pertencer ao mangue e, por lei Federal, não pode ser mexido. Por lá devia ter casa alguma, nem Liceu, nem construção qualquer, e sim somente a natureza intacta. Além de terem permitido e planejado que o meio ambiente fosse agredido, arquitetaram áreas de risco para a vida humana, de forma mais dramática na Vila Velha III.
 Explico; como é a vida dos moradores naquela área. Nesta época da quaresma, os cristãos conhecem bem o significado de palavras como “chagas”, “flagelação” e “cruz”. Pois bem, se quisermos ver as chagas da nossa Fortaleza, podemos encontrá-las, entre outros lugares, na Vila Velha III, onde o povo vive uma flagelação constante não somente debaixo das chuvas desta temporada, mas a flagelação causada pelo total abandono por parte do Estado e do Município.
O povo sobrevive na lama, na falta de assistência, na brutalidade da insegurança de vida, na angustiante incerteza pelo dia de amanhã, no medo, em meio às muriçocas, aos insetos e ratos.
 E esta gente carrega sua cruz, caindo por três ou muito mais vezes, até chegar ao seu calvário definitivo. Alguém observou o seguinte: “O Estado somente se faz presente aqui através dos policiais da Ronda”. Eu também quero questionar: quem teve a fantástica idéia de implantar por lá postos de iluminação em pleno mangue, numa área onde, ainda há poucos anos atrás, havia as panelas de produção do sal?!
Que política é esta que abre seus braços e um largo sorriso para os turistas que virão para assistir a algum jogo nesta cidade, enquanto dá as costas para seu próprio povo? A gente não pode deixar de ter a impressão que a política de dois mil anos atrás, praticada pelos romanos, continua em uso: a política do “panis et circenses” que significa “pão e circo”.
A política que tem por objetivo desviar a atenção de todos e todas dos reais problemas e de questões relevantes de fato, enchendo os olhos do povo com obras faraônicas, como se estas trouxessem algum benefício para a população.
Comparando a Copa de 2014 e os pobres de sempre observo, em segundo lugar, que a Copa atrai sobre si todos os olhares dos meios de comunicação do mundo inteiro e, em especial do Brasil, que tratam esta Copa, embora dure apenas um mês, como se fosse a salvação da pátria.
E os pobres?
Os pobres não são notícia! Os grandes meios não mostram o mínimo interesse em noticiar a vida real de milhares e milhares de famílias. Não há reportagens a respeito da situação desumana na qual se encontra tanta gente. 
Pobre não é assunto. Pobre nunca foi assunto, imagine agora: assunto é a Copa. Os pobres de sempre estão levando mais uma goleada: esta vez da Copa de apenas um mês.
Não me digam que a Copa de 2014 não tem nada a ver com os pobres de sempre! São eles que têm muitas perguntas a fazer aos organizadores da Copa e a todos aqueles que lucrarão fortunas com este evento, que, como se diz, trará muitos benefícios para o Brasil.
Pode ser. Porém, falta saber para quem serão estes benefícios! Será que o povo da Vila Velha III pegará ao menos algumas migalhas? Duvido!

 ( Geraldo Frencken )

Um comentário:

  1. Muito bem avaliado o tema, vamos nos engajar para ajudar a publicar e informar a opiniao pública de Fortaleza, da maldade que está exposta nas intençoes do poder público que nao ajuda em nada, para que as condiçoes dos carentes seja melhorada e atenda a uma vida mais segura e organizada como comunidades. Nós da ONG www.Corespravida.com.br nos importamos e queremos ajudar organizando um Projeto através da pintura com voluntários, dos muros e fachadas das casas na Comunidade do Trilho, levando mais CORES, ALEGRIA, ESTIMA aos moradores. Deus abençoe todas estas iniciativas, assim rogamos. nelson

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